Sr. Taxista...

Sr. Taxista...

Podia tê-lo em maior estima e consideração, isto é um facto, mas de todas as situações caricatas que tenho em memória por utilizar este magnífico meio de transporte, a última foi certamente inesquecível...
Depois de um dia cansativo, talvez extenuante, só pensava em chegar a casa para descansar e relaxar, chamei um táxi...
Parou um táxi podre que fazia faísca no chão, com um cheiro que mais parecia ter o tubo de escape direccionado para dentro, mas como o Sr. Taxista me pareceu um pai de família, penteadinho e com um casaquinho de lã cinzento, descansei e seguimos viagem. Uma viagem longa e isso era mais do que motivo para ficar contente. (E realmente de início ficou/pareceu satisfeito).
Uma grande conversa inicialmente até que reparo que a minha porta ficou mal fechada (foi ele que a fechou) e digo:
- Desculpe, mas parece-me que a minha porta ficou mal fechada!
Ao que ele me responde:
- Não há problema menina! Puxe a porta a ver se fica fechada!
Nisto respondi prontamente às suas ordens com um gesto seco e eficaz... Que me deu direito a ficar com o puxador nas mãos!
(Caramba!!!! e agora!)
A reacção do Sr. foi impressionantemente explosiva...
COMO-É-QUE-É-POSSÍVEL!-AGORA-NÃO-TRABALHO-VOU-JÁ-PARA-CASA. PRECISO-DO-DINHEIRO-PARA-COMER-E-AGORA-O-CARRO-NÃO-ESTÁ-EM-CONDIÇÕES. A VIDA É-MADRASTA-E-QUANDO-OS-CLIENTES-NÃO-TÊM-CUIDADO-AINDA-É-PIOR...
Não tenho palavras para dizer o que senti, um misto de culpa, indignação e pena!!!
Mas aquilo que inicialmente parecia um desabafo da parte dele começou a transformar-se num verdadeiro filme de terror porque o Sr. estava transtornado. Convenhamos que um Sr. perturbado a conduzir um carro onde por acaso até vamos fazer uma distância considerável e demorar um tempo substancial não é minimamente confortável!
Quando achei que o limite tinha sido atingido, tive que pôr travões àquele devaneio e dizer-lhe que apesar de tudo exigia que se acalmasse em prejuízo de sair pela porta fora e ir fazer queixa do seu lamentável comportamento...
.. A viagem fez-se num silêncio castrador!
No fim ofereci-lhe algum dinheiro para o arranjo da porta porque apesar de saber que não era minha obrigação, também não ficava bem de consciência a pensar que de alguma forma o tinha prejudicado...
Ao que me responde:
- Não preciso disso para nada! Tudo o que tenho na vida foi fruto do meu trabalho e não preciso de esmolas!!!
Quer dizer!!!! Depois de uma hora e tal a ouvir um Sr., que devia estar surdo, dado o volume com que fazia questão de falar/lamentar/gritar/exagerar... Resolvo deitar o coração à larga e diminuir-lhe a frustração e responde-me assim...
... Quando ia a entrar em casa... Grita lá do fundo:
- Menina!!!! Boa noite e não fique com problemas na consciência que isto arranja-se!
...
No comments!!!