quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Martim Moniz...


Resolvi, eu e mais quem insistiu na ideia de ir ao Martim Miniz comprar acessórios para os fatos de Carnaval, quando me foi apresentada uma realidade estranha e sinistra! Da fama que lhe está associada/incutida não se livra, mas vivê-lo ao vivo é uma experiência única e perturbadora...
Atravessar o Largo do Martim Moniz, nos nossos dias, pode assemelhar-se a uma viagem ao Magrebe, à Índia, à China ou à África profunda. E tudo sem sequer rumar ao aeroporto da capital, na Portela. A multiculturalidade daquele espaço, quase esvaziado de alfacinhas de gema, é simultaneamente um problema e uma potencial riqueza social.
Do Centro Comercial da Mouraria ao Centro Comercial do Martim Moniz, passando pelas lojas de roupa da Rua da Palma e pelos restaurantes no início da Avenida Almirante Reis, seguindo pelas boticas na antiga estação de metropolitano do Socorro, agora rebaptizada com o nome do largo, ou simplesmente vagueando pelas fontes que decoram a gigantesca praça, o cidadão mais distraído não diria que estava na capital de Portugal, na ponta ocidental da Europa.
Droga, prostituição, proxenetismo são as características normalmente associadas a estas ruas por todos os habitantes de Lisboa. E a verdade é que as profissionais mais antigas do mundo lá continuam nas esquinas, convenientemente vigiadas à distância pelos seus «gestores de carreira», e os junkies circulam pela zona, em busca da próxima dose que lhes garanta o paraíso.O poder reservado a quem de direito tem tentado intervir no eixo Martim Moniz/Mouraria/Intendente. Entre os anos 40 e 60 do século passado, o Estado Novo deu ordem de demolição de parte da Mouraria, com planos de reconstrução, sob pretexto de terminar com o bairro fechado que entretanto ali se criara. As casas vieram abaixo, mas até à década de 80 a ferida aberta, vergonhosa, ali resistiu a céu aberto. Na altura, a Câmara Municipal de Lisboa permitiu a construção do já referido e contestado Centro Comercial da Mouraria. E foi apenas quase no virar do milénio que o arranjo do largo, com fontes, repuxos e quiosques, foi terminado.
...
É uma tristeza ver aquele amontoado de lojas e pessoas sem condições... E não se faz nada!

Um comentário:

Pearl disse...

LOLOLOL
Achei o máximo este post!!!
Porque é uma realidade que acompanhei de perto enquanto trabalhei na CML numa delegação que eles têm ali no inicio da Rua da Palma.
Nessa altura tive oportunidade de explorar essa multiculturalidade (esta palavra é bonita!) nesse espaço pequenito...
foi de alguma forma enriquecedor!!!
:o)))***